O elo de união inicial entre os pesquisadores deste grupo foi o desenvolvimento de um repositório digital a partir de um acervo de obras raras. O trabalho conjunto entre especialistas de diferentes áreas, necessário para o enfrentamento dos desafios técnicos e metodológicos envolvidos na construção de um repositório nesses moldes, instigou-nos à reflexão, fazendo moverem-se as diferentes perspectivas de pesquisa formadas a partir das vivências anteriores de cada componente do grupo.
Os fundamentos da pesquisa realizada por este grupo, portanto, trazem como primeira marca a combinação conflituosa dos fundamentos herdados das nossas áreas de origem – a história, a ciência política, a ciência da informação, a linguística e a ciência da computação. A partir dessa heterogeneidade original, pretendemos, entretanto, construir um ambiente coeso de reflexão, dotado de um corpo metodológico comum.
A partir disso, o grupo se identifica como atuante no campo das chamadas “humanidades digitais”, já que reune estudiosos oriundos primordialmente das “ciências humanas” em torno de investigações voltadas para o processamento artificial da informação. Como é comum nesse campo de conformação difusa e recente, precisamos tomar como uma de nossas primeiras tarefas justamente a definição precisa dos nossos fundamentos de trabalho.
De partida, temos como horizonte comum uma perspectiva unívoca no que toca à ética fundamental e aos impactos sociais das nossas atividades de pesquisa e de seus produtos.
Consideramos que as modernas tecnologias da informação voltadas à formação de repositórios digitais aparecem como instrumentos fundamentais para a preservação dos patrimônios culturais nacionais, desde que garantido o princípio do acesso universal e democrático. Entendemos que essa garantia advém da aliança entre o desenvolvimento tecnológico e a formação de políticas públicas que fomentem e orientem a formação de redes comprometidas com normas e padrões de interoperabilidade e inclusão cidadã. Desta forma, o grupo estabelece o compromisso coletivo com os princípios do acesso livre e com uma postura crítica frente à interação entre circulação de informação e difusão de conhecimento no meio digital. Nossos princípios norteadores e nossa postura crítica explicam a união entre as duas frentes de pesquisa do grupo – desenvolvimento tecnológico e reflexão crítica. Acreditamos que as duas frentes se complementam, uma vez que a perspectiva da democratização e do acesso livre coloca desafios interessantes para o desenvolvimento das tecnologias. De partida, a adoção dos princípios acima delineados impõe limites aos horizontes do desenvolvimento tecnológico possível – a meta da democratização do acesso, por exemplo, impede o direcionamento das tecnologias no sentido de recursos sofisticados com elevado custo de implementação e manutenção. O paradoxo que aí se desenha é apenas aparente: acreditamos que essa limitação, de fato, favorece a criatividade do trabalho de desenvolvimento – que se torna constantemente interpelado pela necessidade de criar recursos tecnológicos a um só tempo eficazes, transferíveis e democráticos.