Por Bruna Baldini de Miranda
Apesar de distantes no tempo, as duas notícias abordadas neste post parecem sinalizar que algumas mudanças no campo das Humanidades Digitais vem acontecendo. Um necessário distanciamento entre ambas demonstra que, em certa medida, chegam, até mesmo, a se complementar. Ao que tudo indica, neste primeiro artigo presente no site do Max-Planck-Gesellschft, as próximas notícias sobre Humanidades Digitais serão escritas com outras tintas e outras fontes. Este interessantíssimo artigo postula uma nova descoberta nos sistemas digitais. Muitos de nós talvez pensem que toda a estruturação em meio digital ocorra pura e simplesmente a partir de uma combinação entre os números ‘0’ e ‘1’, mas de acordo com a pesquisa desenvolvida no instituto – Max-Planck-Instituts für Dynamik und Selbstorganisation em Göttingen – se trata de um novo modelo para o processamento de informação, mais conhecida como complex network computer. Segundo Marc Timmer, responsável pelas pesquisas, este novo modelo é capaz de processar informações através de um sistema oscilatório.
Em termos práticos isso significa que diversos novos e mais eficientes tipos de programação podem ser estruturados conforme o próprio artigo faz referência, o que resulta por conferir uma nova perspectiva de interação em diversas plataformas para os mais variados usos.
Uma das implicações diretas dessa descoberta recai diretamente na maneira como essas interações ocorrem, o que resultará por forçosamente interferir nas próprias interações entre si, tanto no plano da programação em si como no plano da utilização pelos usuários.
Que existe muita inovação e descobertas inimagináveis em Humanidades Digitais realmente não é novidade. O que realmente impressiona é que essas novas técnicas poderão ou não suplantar as atualmente existentes ou podem passar a coexistir, como ocorreu na época do surgimento da imprensa e por conseguinte do texto impresso que passou a se fazer presente nos mesmos espaços antes apenas ocupados pelo manuscrito.
Outro aspecto que chama bastante a atenção é esse movimento oscilante da interação evidenciado por esse novo modelo. É instigante pensar que mesmo em um sistema pequeno, como diz o próprio artigo, as interações e suas resultantes compõem uma infinidade de outras mais.
Toda a forma de interação se constitui como um tema muito caro ao campo das Humanidades Digitais. Um dos subcampos, no âmbito de Humanidades, em que se consegue melhor identificar todas as nuances dos mais diversos tipos de interações é justamente o campo de língua/linguagem, tanto falada como escrita, uma vez que diferentes mídias abundam na internet na atualidade baseando-se em arquivos escritos ou audíveis.

Seguindo essa linha de raciocínio as consequências que esta nova conjuntura trará e que essas interações poderão ter no campo de Humanidades em geral é igualmente imenso.
Passando agora à segunda notícia: sempre houve a necessidade de se catalogar dados, bem como de sistematizá-los. A tecnologia digital soube bem fazer isso, mas a verdade é que a profusão de dados na internet, muitas vezes, não permite relacionar os resultados de suas buscas. Isso, sob a perspectiva da pesquisa se constitui como um grande problema. Evidentemente, existem alguns sistemas em vários países, como diz o segundo artigo: “BISG – Book Industry Study Group, dos Estados Unidos, formulou o BISAC, os ingleses criaram o BIC, os franceses o CLIL e os alemães, o WGS”. Talvez um deles forneça novas dinâmicas na classificação dos objetos digitais e/ou produtos culturais. É importante lembrar que muitos sites que disponibilizam material digitalizado – como bibliotecas, instituições, revistas digitais – trabalham diretamente com os metadados.
A novidade, no caso do segundo artigo, seria um projeto denominado THEMA, o qual seria capaz, de alguma forma, de reunir diferentes informações de uma infinidade de bancos de dados diferentes que pudessem compor um único banco de dados geral. Esse se mostra ser um decisivo e relevante passo para os pesquisadores, uma vez que levarmos em conta a quantidade de fontes e repositórios que existem na atualidade. Novamente interações inimagináveis parecem ser a espinha dorsal das Humanidades Digitais.
O amálgama entre interação (representado por esse sistema oscilatório) e língua (representada pelos sistemas que estruturam os metadados) parece ser indissociável neste novo cenário sinalizado por essas duas notícias. Esse movimento oscilatório remete novamente à primeira descoberta mencionada neste post, ou seja, a partir de uma única interação entre dois elementos, por assim dizer, uma infinidade de outras interações são engendradas.
Não se pode perder de vista que muitas vezes são as interações que definem seus participantes, muito mais do que suas características tomadas estatica- e individualmente.
Fonte da imagem: See-ming Lee, nov. 2013, Creative Commons“Installation by Theaster Gates (b. 1973): Red line with black soot and enthusiasm, 2013 (Decommissioned fire hose and wood)” / Kavi Gupta / Art Basel Hong Kong 2013 / SML.20130523.6D.14240 (See-ming Lee) / CC BY 2.0

Veja mais em:
1º. artigo: http://www.mpg.de/5975149/complex_network_computer
2º. artigo: http://www.publishnews.com.br/telas/colunas/detalhes.aspx?id=75793