
As fronteiras entre as assim chamadas ciências “exatas“, “naturais” e “humanas” tem perdido a nitidez em diversos campos de investigação; é certamente esse o caso da “Inteligência Artificial”. Um debate recente entre o linguista Noam Chomsky e Peter Norvig, diretor de pesquisas da Google, mostra os desafios epistemológicos deste campo de estudos dedicado à compreensão dos mecanismos da inteligência, e toca em alguns pontos interessantes para a reflexão sobre a relação entre as humanidades e as tecnologias computacionais, e quem vem sendo levantados também por algumas vozes críticas no campo das Humanidades Digitais.
A polêmica teve início com a fala de Chomsky em um simpósio sobre Inteligência Artificial em 2011, na qual o linguista criticou duramente o andamento das pesquisas no campo, em particular quanto às tendências mais recentes de utilização de modelos computacionais sofisticados. Para Chomsky, a possibilidade aberta pelos progressos da computação, permitindo-nos trabalhar com volumes de dados sem precedentes, não conduz necessariamente a uma ciência mais interessante – ao contrário, tem gerado reflexões superficiais. A imediata e contundente contestação de Peter Norvig à posição de Chomsky gerou grande repercussão ao longo do ano. Na semana passada, em entrevista à “The Atlantic”, Chomsky reforçou e ampliou sua argumentação inicial sobre os resultados pífios do campo da Inteligência Artificial a despeito dos progressos tecnológicos (ou, até, por conta deles).

Enquanto isso, nos debates sobre as Humanidades Digitais, crescem também algumas vozes críticas à aliança entre o fazer humanístico e as ferramentas computacionais, que podem ser bem representadas pelo recente artigo “Literature is not Data: Against Digital Humanities”, do escritor Stephen Marche.
Entre a crítica de Chomsky à Inteligência Artificial e o artigo de Marche contra as Humanidades Digitais, podemos vislumbrar alguns pontos em comum, que conduzem à pergunta: as tecnologias computacionais podem de fato trazer uma contribuição (interessante, relevante, inteligente) para as humanidades e para as questões que elas levantam sobre o homem (sua inteligência, sua criatividade, sua linguagem, sua arte) – ou tudo o que nos trazem são ferramentas que aumentam nossa capacidade de processar informações, indefinidamente, ilimitadamente – mas superficialmente?
Deixo aqui no ar, como sugestão para nossas discussões, essas leituras e essa pergunta essencial para qualquer reflexão sobre a relação entre as humanidades e as tecnologias computacionais. Termino, sem terminar, lembrando a provocação que postamos nos primeiros dias de existência deste blog, em setembro de 2011, emprestando as palavras de Russell Betts:
“We have infinite computer power at our fingertips,
and without much thought you can create
an infinite amount of nonsense.”
[…] em 08/11/2012 por […]
Reblogged this on I Seminário Internacional Humanidades Digitais.
Penso que a lacuna que existe entre a inteligência artificial, ou tecnologia e as ciências humanas é a ciência da informação, representada pela Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia, ciências que por vezes são negligenciadas e como resultado, muitas vezes os tecnológicos veem seus projetos vazios e infrutíferos.
[…] determinará uma nova leitura? Tratamos nisso outras vezes neste blog, neste post, e especialmente neste outro; há também uma discussão muito interessante sobre o assunto no blog The Dragonfly’s Gaze: […]