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Digitalização e Cinema

Bette Davies 1931 - Foto Luiz Fernando Reis/Sonia Maria. Fonte: Flickr em 18-07-2011
Bette Davies 1931 – Foto Luiz Fernando Reis/Sonia Maria. Fonte: Flickr em 18-07-2011

“Martin Koerber dirige, desde 2007, o Arquivo da Cinemateca Alemã – Museu de Cinema e Televisão, em Berlim. Em entrevista, ele fala sobre a importância da digitalização para seu trabalho.

Na função de diretor do Arquivo Cinematográfico, você vivencia no momento, de perto, uma mudança de paradigmas, ou seja, a transição da era do cinema analógico para a do cinema digital. Como isso modificou a essência de seu trabalho nos últimos anos?”

Andreas Busche, especialista em restaurações cinematográficas, entrevista Martin Koerber, diretor do Arquivo da Cinemateca Alemã – Museu de Cinema e Televisão, em Berlim.

Fonte: Goethe-Institut e. V., Internet-Redaktion
Março de 2013

Veja mais em: http://www.goethe.de/ins/br/lp/kul/dub/flm/pt10740851.htm

Day of Digital Humanities 2013

O grupo de pesquisas Humanidades Digitais está participando do Day of Digital Humanities 2013. Confiram nosso blog, em http://dayofdh2013.matrix.msu.edu/humanidadesdigitais/ !

Manuscritos do Timbuktu – a escrita enquanto técnica perene

Por Bruna Baldini de Miranda

A aura que envolve os manuscritos, sejam eles de que época forem, parece nunca se desvanecer. E mesmo na Era da Digitalização tudo leva a crer que essa aura se mantém. Bem, não é para menos, pois através dos manuscritos é possível ter acesso a informações ou contextos inalcançáveis. O que mais chama a atenção é que parece haver uma espécie de movimento recente, empenhado em reafirmar que apesar de estarmos entrando em um período em que se utilizará cada vez menos a escrita manuscrita – eles, os manuscritos, estão ocupando reconhecido lugar de destaque – considerando que uma verdadeira leva em diferentes instituições e localidades tem sido sistematicamente digitalizada há algum tempo. Continue lendo “Manuscritos do Timbuktu – a escrita enquanto técnica perene”

Inauguração da Biblioteca Mindlin

O edifício, projetado pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, está preparado para receber pesquisadores e visitantes, assim como abrigar exposições, eventos e outras atividades acadêmicas e culturais.

Tudo isto foi possível a partir da doação da coleção brasiliana de Guita, José e seus filhos (Betty, Diana, Sérgio e Sônia), da dedicação e ousadia do professor István Jancsó, do apoio seguro da Reitoria da USP e da confiança de diversos patrocinadores e parceiros: Fundação Lampadia, BNDES, Petrobras, CBMM, CSN, Votorantim, Telefônica (Vivo), Suzano, Santander, Natura, Cosan, Raízen, CPFL e o senador Eduardo Suplicy.

Ao longo destes anos, muitos se envolveram nesta jornada e merecem todos os créditos por termos realizado este sonho de José Mindlin. Que é um sonho de todos nós. Podemos, agora, dar início a uma nova fase da Biblioteca Mindlin, sempre aberta, sempre atenta ao presente e ao futuro, sempre disposta ao diálogo e à produção do conhecimento.

Duas exposições serão inauguradas e poderão ser visitadas pelo público (gratuitamente) a partir do dia 25 de março. Ambas são uma realização do Instituto Brasiliana e foram patrocinadas pelo BNDES e pela Petrobras, por meio de incentivo fiscal (Ministério da Cultura).

“Não faço nada sem alegria” é uma exposição de longa duração com painéis, fotos e vídeos sobre a vida de Guita e José, a formação do acervo da Biblioteca, a construção do edifício, a cultura do livro, a história da imprensa e o prazer da leitura.

“Destaques da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin” é uma mostra de cerca de cem títulos da coleção que estarão expostos até 28 de junho. É uma oportunidade para ver de perto alguns dos itens mais valiosos e importantes da brasiliana Mindlin.

O atendimento aos pesquisadores será feito a partir do dia 02 de abril, inicialmente apenas no período da tarde. Pedimos antecipadamente desculpas por este inconveniente, mas estamos ainda formando uma equipe e organizando os procedimentos para melhor atender o público, incluindo, em breve, a disponibilização do catálogo da Biblioteca Mindlin no Catálogo Geral da USP – Dedalus. Assim, solicitamos o agendamento prévio das visitas de pesquisa ao acervo, que poderá ser feito através do email brasiliana@usp.br. (http://www.brasiliana.usp.br/node/1064. Acesso em 22-3-2013)

Políticas das questões

http://dp.la/info/about/history/

O projeto da Biblioteca Pública Digital Americana (ou DPLA, sigla para Digital Public Library of America) irá estabelecer, uma vez implantado,  novos paradigmas para a digitalização de acervos públicos.

Esta e algumas outras questões relevantes se colocam durante a entrevista concedida por Robert Darnton – diretor da Biblioteca da Universidade de Harvard –  ao jornal Folha de São Paulo.

A questão do estabelecimento de novos paradigmas, ainda que não seja o principal aspecto abordado na entrevista, pode determinar decisivamente como o acesso ocorrerá na prática. Entretanto, o que mais chama a atenção nessa entrevista é a forma como o projeto DPLA se realizará, ou seja, que políticas públicas serão adotadas para concatenar questões como direito autoral, digitalização, disponibilização de acervo e etc.

Outra questão que a entrevista levanta é a oposição que ocorrerá entre os projetos Google Books e o DPLA, uma vez que o primeiro projeto é voltado para o lucro e o segundo, não – ou seja, em outras palavras esses dois projetos representarão faces opostas em um mesmo contexto: disponibilização e acesso em acervos digitais.

É evidente que a entrevista suscita uma série de considerações, dentre outras, esta especificamente nos encaminha a uma interessante conclusão, ainda que não mencione a problemática: a necessidade urgente de uma espécie de curadoria de conteúdos para os acervos digitalizados.

A digitalização de inúmeros acervos residentes em uma infinidade de instituições exige uma espécie de curadoria, não a mesma que se aplicaria a exposições físicas e também não a mesma classificação de uma biblioteca e/ou instituição. A profusão de informações a que é possível se ter acesso na internet se assemlha muito a um turbilhão. De modo que algum tipo de curadoria, que não só contextualizasse as informações, mas também as abrigasse sob eficazes eixos temáticos, se torna absolutamente necessário.

Entretanto, a problemática que não se delineia é justamente essa voltada à perspectiva da curadoria em acervos digitalizados. Uma operação interessante seria realmente estabelecer eixos temáticos entre os vários títulos e materiais (mapas e etc.) digitalizados. Além disso, o ideal seria estabelecer diálogos entre diferentes acervos, pois é de conhecimento geral que diferentes edições de uma mesma obra se encontram em diferentes acervos. Uma interessante e necessária vertente de pesquisa que se delineia é a de estudar e avaliar como foram catalogados e digitalizados esses materiais que representam diferentes faces de um mesmo evento/fato/acontecimento.

No limite, é sempre necessário manter no horizonte que ao final da digitalização do acervo, a etapa final – pensando na disseminação do conhecimento e no espalhamento das informações – na verdade ocorrerá apenas quando o usuário delas fizer uso. Portanto se configura como de extrema relevância a maneira/forma como se digitalizou e se catalogou aquela determinada informação e/ou conteúdo. Por essa razão a opção de se estruturar eixos temáticos se coloca como necessária ao fluxograma da digitalização, enquanto processo.

Como a própria entrevista acima sugere, existem muitos envolvidos nesse grandioso projeto, fruto da iniciativa de instituições privadas; e este é justamente o ponto crucial: a gestão por parte de instituições privadas da digitalização de acervos públicos, operação que trará decisivas e desconhecidas consequências, que também se configurarão como uma outra interessante perspectiva para se analisar e compreender o acervo digitalizado e, prinicipalmente, a maneira como será disponibilizado; além disso, sobretudo, sem esquecer como o conteúdo nele contido será publicado na rede mundial. Entende-se que toda e qualquer circusntância, nesse contexto, representa inovadores e originais desdobramentos para o projeto como um todo.

Sem dúvida o Projeto DPLA é ansiosamente aguardado, entretanto, também serão esses tais previsíveis e inimagináveis desdobramentos.

Veja mais em:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1231427-o-acervo-digital-dos-estados-unidos-vem-ai.shtml

Imagem destacada:

DPLA, http://dp.la/info/about/history/

Resumos do Seminário sobre Acervos Digitais

Os resumos de cada dia do Seminário Internacional Sistemas de Informação e Acervos Digitais de Cultura já estão disponíveis no site do Ministério da Cultura (primeiro diasegundo diaterceiro dia). Em breve, as sessões gravadas estarão disponíveis no Blog do evento.

O digital e as novas formas de construção do conhecimento

O digital e as novas formas de construção do conhecimento

Maria Clara Paixão de Sousa

Comunicação ao Seminário Internacional Sistemas de Informação e Acervos Digitais de Cultura – 12/03/2013

Créditos das Imagens e
Referências bibliográficas

Illustration of a scholar from The arte or crafte to lyve well and to dye well, printed 1505, the South Quire Aisle – Windsor College http://www.stgeorges-windsor.org/archives/blog/?tag=south-quire-aisle
Illustration of a scholar from The arte or crafte to lyve well and to dye well, printed 1505, the South Quire Aisle – Windsor College
http://www.stgeorges-windsor.org/archives/blog/?tag=south-quire-aisle
WILLEM VAN SWANENBURGH. Leiden c. 1581/1582 – 1612 Leiden.After J.C. Woudanus. The interior of the University Library in Leiden. BIBLIOTHECAE LUGDUNO-BATAVAE CUM PULPITIS ET ARCIS IXNOGRAPHIA. Engraving, 1610. http://www.masterprints.nl/prints/11/si_10.html
WILLEM VAN SWANENBURGH. Leiden c. 1581/1582 – 1612 Leiden.
After J.C. Woudanus. The interior of the University Library in Leiden. BIBLIOTHECAE LUGDUNO-BATAVAE CUM PULPITIS ET ARCIS IXNOGRAPHIA. Engraving, 1610. http://www.masterprints.nl/prints/11/si_10.html
Le diverse et artificiose machine del capitano Agostino Ramelli... Ramelli, Agostino, 1531-ca. 1600. Arquivo digital da Beinecke Library, Elizabethan Club of Yale University, 1032311
Le diverse et artificiose machine del capitano Agostino Ramelli… Ramelli, Agostino, 1531-ca. 1600. Arquivo digital da Beinecke Library, Elizabethan Club of Yale University, 1032311
Chained Library -  Hereford Cathedral. http://www.herefordcathedral.org/education-research/library-and-archives/history-of-the-chained-library
Chained Library – Hereford Cathedral. http://www.herefordcathedral.org/education-research/library-and-archives/history-of-the-chained-library
Cincinnati Public Library, 19th century. http://www.cincinnatimemory.org/
Cincinnati Public Library, 19th century. http://www.cincinnatimemory.org/

Referências bibliográficas

ARL – Association of Research Libraries. Definition and Purposes of a Digital Libraries. ARL, 1995. <http://www.ifla.org/documents/libraries/net/arl-dlib.txt>.

Baganha, Filomena: Novas bibliotecas, novos conceitos. Revista da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Porto. ISSN 1646-0502. 1 (2004) 93-97.<https://bdigital.ufp.pt/dspace/handle/10284/616>

Duguid, Paul. Report of the Santa Fe Planning Workshop on Distributed Knowledge Work Environments: Digital Libraries. University of Michigan School of Information, Sept./1997.

Kuny, Terry; Cleveland, Gary. “The Digital Library: Myths and Challenges”, in IFLA Journal, v. 24, n. 2, 1998. <http://www.ifla.org/IV/ifla62/62-kuny.pdf>.

Lucas, Clarinda Rodrigues. O conceito de biblioteca nas bibliotecas digitais. Informação & Sociedade. Estudos, João Pessoa – PB, v. 14, n. 02, 2004. http://143.106.108.14/BoletimSBU/2005/julho/Artigos/IS1420401.pdf

Sayão, Luis Fernando. Afinal, o que é biblioteca digital?. Rev. USP [online]. 2009, no. 80 [citado 2010-09-08], pp. 6-17. <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-99892009000100002&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0103-9989.

Unsworth, John. Forms of Attention: Digital Humanities Beyond Representation. Paper delivered at “The Face of Text: Computer-Assisted Text Analysis in the Humanities,” the third conference of the Canadian Symposium on Text Analysis (CaSTA), McMaster University, November 19-21, 2004. <http://www3.isrl.illinois.edu/~unsworth/FOA/>

Sistemas de Informação e Acervos Digitais de Cultura


Seminário Internacional Sistemas de Informação e Acervos Digitais de Cultura

De 11 a 13 de março de 2013, no Auditório István Jancsó da Biblioteca Mindlin (USP), a Secretaria de Políticas Culturais do MinC realiza o “Seminário Internacional Sistemas de Informação e Acervos Digitais de Cultura”, com a presença da ministra Marta Suplicy na mesa de abertura.

O Seminário propõe reunir gestores públicos e privados, pesquisadores e comunidade acadêmica interessados em sistemas de informações culturais com interfaces colaborativas e arranjos de integração para acervos digitais de bibliotecas, arquivos e museus.

O presente evento dialoga diretamente com o “Simpósio Internacional de Políticas Públicas para Acervos Digitais”, realizado pelo MinC e pela Brasiliana USP em 2010.

Veja a programação do evento e outras informações no sitehttp://culturadigital.br/acervosdigitais/

O enredo que tece a história

Por Bruna Baldini de Miranda

Philip Roth
Philip Roth Unfinished. Desenho de France Belleville.

A voz autoral, sempre intrigante, sofre uma série de alterações de acordo com as edições e reimpressões que uma determinada obra recebe. Atualmente, com uma intensificada circulação de informações, é possível ter acesso a fatos acerca de autores, tramas e, até mesmo, a informações sobre o autor. Esse texto complementa as discussões ocorridas em muitas das sessões  do GP HD sobre o papel do autor. Abordamos especificamente uma informação sobre o autor em questão, Philip Roth, veiculada em um site de amplo e vasto acesso. O que chama mais a atenção sobre esse fato, aparentemente corriqueiro, foi a forma como uma informação sobre esse autor foi selecionada para fazer parte de um conjunto mais abrangente, sobre o próprio autor em questão, que contaria com informações mais detalhadas a respeito dele e de sua obra. Continue lendo “O enredo que tece a história”

“Conhecimento Livre”

Open Access
Foto de Biblioteekje.

Não é de hoje que cientistas defendem a ideia de que o conhecimento precisa ser difundido de forma livre para que a sociedade possa apropriar-se dele.
Mas o acesso aberto começou de fato a frutificar a partir dos anos 1990 com o advento da internet e sua capacidade de distribuir informação com custo baixo.”

Conhecimento livre

Fabrício Marques
Revista Fapesp – Edição 201, Novembro de 2012

Este artigo na Revista Fapesp resume os debates mais recentes em torno da difusão livre (aberta e gratuita) da pesquisa científica no mundo, seguindo a repercussão da Semana Internacional do Acesso Aberto de 2012. Como mostra o artigo, há grandes contrastes quanto aos avanços e entraves à difusão livre da produção acadêmica nos diferentes países – vale destacar, nesse sentido, a recente iniciativa de um grupo de cientistas contra a editora holandesa (hoje, na verdade, transnacional) Elsevier, com o lançamento de um boicote que já compreende 12.963 assinaturas – cf. “The Cost of Knowledge“. Nas entrevistas com Jorge Guimarães (presidente da Capes), Rogério Meneghini (coordenador científico da biblioteca SciELO Brasil) e Pablo Ortelado (professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e membro do Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação da universidade), o artigo destaca a trajetória brasileira, “única no mundo”, ainda que também marcada por contrastes, como observa Ortelado: “A USP começou a organizar um repositório com todas as teses e artigos de seus pesquisadores, mas não há muitos exemplos desse tipo no Brasil.” Além dos movimentos em curso na USP (veja mais em acessoaberto.usp.br.), destacam-se as políticas de acesso aberto conduzidas pela Fapesp (como a SciELO Brasil), pela Capes (como o Portal de Periódicos) e pelo Ibict (como o Diadorim, Diretório de Políticas de Acesso Aberto das Revistas Científicas Brasilieiras).

Open Access - The cost of knlwledge
The Cost of Knowledge – Cartum de Giulia Forsythe.

Biard na Brasiliana Digital

Detalhe de Présages d’une invasion de fourmis (Sinais de um ataque de formigas). Gravura em madeira, por Auguste François Biard, Edouard Riou e Alexandre Hurel. 1862. Em Deux années au Brésil, de A. F. Biard. Acervo digital da Brasiliana USP.
François-Auguste Biard: retratos do Brasil com humor e ironia

Como parte dos nossos projetos na área de tradução – francês, a Brasiliana USP colocou no ar o trabalho de catalogação das gravuras do livro “Deux années au Brésil“, de François-Auguste Biard: “No final do século XVIII nascia o pintor de costumes François-Auguste Biard, mais precisamente no ano de 1798, em Lyon, França. Seguindo a prática da época, Biard foi destinado pela família a seguir carreira religiosa. No entanto, foi no campo das artes que encontrou sua vocação, ingressando na escola de Belas Artes de Lyon na década de 1820. Mais tarde, em 1827, tornou-se professor de desenho da Marinha, posto que possibilitou seu contato com outras culturas da Europa. As viagens o fascinavam a tal ponto que passou a coletar objetos exóticos por interesse antropológico e a registrar suas impressões pela pintura, em telas que fazia com representações dos locais por onde passava. Expõe, no salão de 1818, sua primeira obra, Les enfants perdus dans la forêt. Em algumas dessas exposições, que aconteciam nos Salões de Paris, chegou a ganhar medalhas. Os quadros de Biard interessavam não só aos entendidos em arte, mas principalmente ao grande público, que apreciava as pinceladas de humor mordaz impressas em suas obras”. Leia o artigo completo de Omotayo Itunnu Yussuf na Brasiliana Digital.

“O Fim do Livro”

O fim do livro já foi anunciado há mais de 150 anos

João Marcos Cardoso
Especial para o blog
Machado de Assis em 1864. Fotografia de Joaquim José Insley Pacheco (1830-1912). Arquivo da Academia Brasileira de Letras, http://www.academia.org.br

Em 1859, um jovem de 19 anos, defensor um tanto ingênuo dos princípios liberais e da crença inabalável no progresso que a eles se associava, publicou no jornal carioca Correio Mercantil dois artigos anunciando o provável fim do livro, cuja proeminência seria suplantada pelo jornal. O falso prognóstico dos textos e a juventude de seu autor teriam selado seu esquecimento se a assinatura Machado de Assis não os acompanhasse. Nesses dois artigos intitulados O jornal e o livro, não há praticamente nada que faça supor o grande autor de Memórias póstumas de Brás Cubas; ainda assim, tanto por suas virtudes quanto por seus defeitos, esses textos escritos por um Machado ainda crente nas ideologias de seu tempo têm muito a dizer sobre as mudanças do nosso tempo, que em vários pontos repetem os prenúncios do passado, como por exemplo o de que o livro em papel perecerá em breve.

Essas profecias já seculares interessam, em primeiro lugar, porque lá como aqui um meio de comunicação relativamente novo e promissor – a imprensa periódica no Segundo Império, as novas tecnologias de informação no séc. XIX – se desenha como uma ameaça a um meio que parece já não adequar-se a um novo ritmo histórico. Assim, diz Machado, o livro teria “alguma coisa de limitado e de estreito se o colocarmos em face do jornal.”; é uma forma obsoleta que se depara com uma “locomotiva intelectual”. Contudo, olhando para trás, não há dúvidas de que apesar da “morosidade” do livro, ele não perdeu o passo da história diante da “presteza e reprodução diária desta locomoção intelectual” que era o jornal impresso no séc. XIX. O dinamismo infinitamente potencializado das novas tecnologias de informação estariam em melhores condições para decretar o fim do livro, ao menos em sua forma tradicional?

As profecias interessam, em segundo lugar, porque Machado parece muito convicto de que a forma material pela qual o conhecimento é transmitido tem efeitos diretos na construção de seu sentido, na sua inserção em um dado meio social e cultural. Essa convicção é um dos pilares desses dois textos, pois em contraste com o livro, as características formais do jornal – “a forma que convém mais que nenhuma outra ao espírito humano” – estaria na base de uma “revolução na ordem social”: “O jornal é a liberdade, é o povo, é a consciência, é a esperança, é o trabalho, é a civilização”. Aqui chega ao ápice a utopia liberal do jovem Machado de Assis, que via no jornal não só o arauto de um futuro democrático, mas sobretudo o agente que o realizaria. Não é preciso dizer que, olhando retrospectivamente, essa utopia se frustrou; nem o mais entusiasmado defensor do jornal impresso acredita ainda que ele possa realizar essa grandiosa missão.

Atualmente ninguém mais vê o livro e o jornal como rivais, mas ambos parecem ser ameaçados pelo espectro das novas tecnologias da informação, tidas e havidas por muitos como a melhor roupagem do espírito contemporâneo, e mais do que isso como a detentora de um novo projeto utópico. Esse novo formato do pensamento humano desbancará finalmente o livro (e o jornal) e realizará o projeto revolucionário em que o jornal fracassou um século e meio atrás? Algumas décadas depois da publicação desses dois textos, seu autor, já amadurecido e desencantado com as ideologias de seu tempo, talvez risse de seu otimismo juvenil e das predições que dele derivaram. O que diria o Machado maduro a respeito de predições contemporâneas que têm o livro como alvo e que são similares às da sua juventude por seu conteúdo e por seu otimismo?

Bem vindo ao nosso blog! Estamos testando um novo design e nossas páginas estarão um pouco instáveis nesses dias… Obrigada pela sua compreensão.

Inteligência, criatividade, computação e ciência

Diagrama em: Samuel R. Wells. How To Read Character: A New Illustrated Handbook Of Phrenology And Physiognomy, For Students And Examiners; With A Descriptive Chart. Fowles & Wells: New York, 1873. hpp://commons.wikimedia.org/wiki/File:Phrenologychart.png; Domínio Público.
Diagrama em: Samuel R. Wells. How To Read Character: A New Illustrated Handbook Of Phrenology And Physiognomy, For Students And Examiners; With A Descriptive Chart. Fowles & Wells: New York, 1873.

As fronteiras entre as assim chamadas ciências “exatas“, “naturais” e “humanas” tem perdido a nitidez em diversos campos de investigação; é certamente esse o caso da “Inteligência Artificial”. Um debate recente entre o linguista Noam Chomsky e Peter Norvig, diretor de pesquisas da Google, mostra os desafios epistemológicos deste campo de estudos dedicado à compreensão dos mecanismos da inteligência, e toca em alguns pontos interessantes para a reflexão sobre a relação entre as humanidades e as tecnologias computacionais, e quem vem sendo levantados também por algumas vozes críticas no campo das Humanidades Digitais.  Continue lendo “Inteligência, criatividade, computação e ciência”